terça-feira, 4 de agosto de 2020

O REINO DO CEMITÉRIO 

(KALUNGA PEQUENA)


  Kalunga, palavra derivada dos povos do Congo ou Angola, possui uma definição que assemelha-se com “Necrópoles”, “Terra dos Mortos”, “Mundo dos Ancestrais” ou ainda a tênue linha que separa vivos dos mortos. Alguns acreditam que “Kalunga” significa o rio que separa vivos e mortos, papel muito similar ao rio “Styx” da mitologia grega. 


  A mesma palavra é usada para qualificar grupos de escravos africanos e seus descendentes que fugiam dos senhores de engenho e agrupavam-se em pequenos povoados isolados e protegidos denominados “Quilombos”. Essas comunidades acabaram por agregar índios, brancos, brasileiros e europeus, além da presença de membros da igreja católica. Tal mistura de povos e tradições criou uma cultura hibridizada e, muito provavelmente, também tenha sido incubadora natural dos mitos formadores da Quimbanda Brasileira.

  Para os ocidentais, o cemitério é um local de dor e solidão, onde as lágrimas jamais cessam, todavia, o conceito “Kalunga” difere-se culturalmente, pois os africanos acreditavam que o mundo dos ancestrais era o local de onde se emanava força e sabedoria que capacitavam as pessoas tornando-as ilustres. Quando o negro africano foi escravizado e trazido ao Brasil, atravessaram o grande rio (mar) ao qual denominaram de “Grande Kalunga” (Kalunga Grande). Assim temos duas concepções: Os cemitérios (Pequenas Kalungas) e o Mar (Kalunga Grande). Um detalhe importante é que antigos rituais crematórios de grandes autoridades e monarcas eram efetuados em embarcações dentro das águas do mar para que suas cinzas encontrassem o caminho do Reino dos Mortos. Em países do Oriente ainda existem tradições de cremação nas margens de rios.


  A diferença reside no fato de que os cemitérios são locais destinados à sepultura dos mortos. Geralmente são afastados dos centros urbanos, pois são habitat de animais repugnantes que exercem o papel decompositor, ou seja, a morte alimenta a existência de outros animais.

  Espiritualmente, os seres que compõem o “Reino da Kalunga Pequena” são muito obscuros, e parte de suas forças reside na nostalgia, nos sentimentos, ressentimentos, medos, 
angústias,  desespero, o tempo cronológico, sobre as memórias, as lembranças, os medos, e sobre o outro lado da vida. Regem a morte física, a morte simbólica e são invocadas para situações de fechamento de ciclos. 

  Em sua essência atuam com grande seriedade e firmeza, não aceitando brincaderas, fingimentos nem arrogância. Tendem a ser mais reservados e diretos em suas consutas, com grande poder de curar as piores doenças, sejam elas físicas ou espirituais. São grandes senhores e senhoras aptos à guerra, com enorme conhecimento no lançamento de feitiços. Quando zelados e cultuados com fé e dedicação são capazes de transmitir uma herança ancestral incrível e um grande poder de proteção impenetrável. 

  Muitas legiões, chamadas também como “Povos” compõem o “Reino da Kalunga Pequena”;



Povo das Portas da Kalunga.- Chefe Exu Porteira,

Povo das Tumbas.- Chefe Exu 7 Tumbas,

Povo das Catacumbas.- Chefe Exu 7 Catacumbas,

Povo dos Fornos.- Chefe Exu Brasa,

Povo das Caveiras.- Chefe Exu 7 Caveira,

Povo Kalunga da Mata.- Chefe Exu Morcego,

Povo da Kalunga da Lomba.- Chefe Exu Corcunda,

Povo das Covas - Chefe Exu 7 Covas,

Povo das Mirongas e Trevas - Chefe Exu Capa Preta (conhecido também como Exu Mironga),