quarta-feira, 22 de abril de 2020

CULTOS DE QUIMBANDA NO SUL



Cultos de Quimbanda no Sul


  Dentro da cultura tradicional Bantú existe a crença da sobrevivência dos espíritos, onde estes após a morte podem ou não gozarem de grandes prestígios, atuando como guardiões de uma pessoa e até mesmo de todo um clã familiar. Temos o conhecimento de quatro formas que mais são praticadas na região Sul, e podemos citar: 



1. Culto dos Exús praticado dentro da Umbanda;

2. Culto dos Exús através do Reino das Encruzilhadas, do Cruzeiro e das Almas;

3. Culto dos Exús através dos 7 reinos (Mato, Cruzeiro, Encruzilhada, Lira, Cemitério, Almas e Praia)

4. Culto dos Exús através do sincretismo com Demônios (Quimbanda Luciferiana);

CULTO DOS EXÚS PRATICADO DENTRO DA UMBANDA

  Acreditamos que os Bantos foram os que mais sofreram com a perda de suas divindades em solo brasileiro, pois através da escravidão foram tiradas suas crenças e impostas a religião dominante local, que na época era o cristianismo, surgindo assim a “Umbanda Brasileira”. Assim como houve na Umbanda o sincretismo das suas entidades, onde podemos citar os Caboclos (espíritos) da falange de Xangô tendo sincretismo com o Santo católico São Jerônimo, os Caboclos (espíritos) da falange de Ogum tendo sincretismo com São Jorge, etc. Na quimbanda também teve a tentativa “infeliz” ao nosso entendimento, do sincretismo religioso, onde compararam os seus espíritos de culto com demônios cristãos. Em algumas casas os exus de Umbanda tambêm foram sincretizamos ao Orixa Bará (Esu) com imagens católicas de Santo Antônio e São Pedro sendo usado tambêm a similidade das oferendas mas sem haver sacrifício.

Acreditamos que à origem da perseguição ao culto na década de sessenta se deu ao fato da Umbanda ter feito o sincretismo de seus espíritos com os Santos cristãos mencionados anteriormente, fazendo com que as pessoas de batismo católico que adentravam em seu culto, pensassem que os demais espíritos cultuados fora destes padrões estariam desqualificados para serem lembrados e reverenciados, destinando os mesmos ao que chamavam naquela época de entidades das trevas. A Umbanda autodenominada de “Pura” ou “Linha Branca” acabou simplificando o culto dos Exús como "As Entidades da Esquerda", automaticamente associando estes espíritos a tudo que fosse negativo, nefastos ou atrasados, etc. Sua associação com o diabo era evidente, pois os Exús foram introduzidos na Umbanda como guardiões das esferas negativas, passando a serem subordinados aos seus guias espirituais, os caboclos e suas falanges.


  Entendemos que houve uma tentativa de cristianização dos escravos negros e dos índios já libertos no Brasil, onde alguns aceitaram a imposição da igreja e outros não. A aceitação de alguns desses grupos teria ocasionado o surgimento da Umbanda que se autodenominou na época de “linha Branca”, passando a crer na inferioridade dos Exús para terem maior expansão de culto. A segunda parte que resolveu preservar sua crença foi extremamente perseguida, tendo seu sincretismo atrelado aos demônios cristãos.

  O sincretismo da Umbanda “dita branca” fez com que seu culto tivesse uma aceitação maior por parte dos católicos brasileiros, pois era mais fácil atribuir a inferioridade ao Exú, alegando o mesmo ser escravo do caboclo de Umbanda, do que dar um culto especial e separado aos mesmos. Ainda nos dias de hoje percebemos que pessoas com criação cristã denominam de “linha branca” o culto de Umbanda, e de “Linha Negra” o culto de Quimbanda. Criando assim uma pirâmide hierarquica aonde os ''Caboclos de Umbanda'' estariam acima dos da Quimbanda.

  Os exus de umbanda então foram cultuados como escravos astrais, ondem vinham muito poucas vezes aos fins das sessões somente para fazer a limpeza da casa. Na Umbanda até a altura da casinha de exu, situada na frente do terreiro, tem uma medida específica, para demonstrar seu caráter de serviçal e sua posição inferior a do Caboclo da Umbanda. Nessa casa é colocado apenas um copo pequeno de cachaça e um charuto acesso e algumas vezes determinados pratos especificos, pois não são praticados sacrificios de animais.

CULTO DOS EXÚS ATRAVÉS DO REINO DAS ENCRUZILHADAS, CRUZEIRO E DAS ALMAS



  Talvez este seja o culto de Quimbanda mais praticado dentro do Rio Grande do Sul, pois seus rituais são feitos com os assentamentos dos espíritos e levam nome de Exú, utilizando o uso de sacrifícios de animais, caracterizando-os assim como um ritual de quimbanda separado da Umbanda. Onde entendemos que houve uma perca ritualística em sua essência de culto, onde no nosso entendimento esta forma de ritual foi perdida com passar dos tempos, pois nos dias atuais quando se inicia nos rituais, tão logo lhe entregam um colar de miçangas (guia) na cor vermelha e preta, esperando que possamos receber algum espírito para que este seja doutrinado levando a denominação de Exú.

  Com passar dos tempos, este espírito vindo a ter uma evolução doutrinária maior, poderá dizer a qual Reino pertence. Nesta forma de culto sem o devido entendimento, se pensa que os Exús pertençam apenas ao Reino das Encruzilhadas, outros dos Cruzeiros e por fim das Almas, dando a cor das vestimentas da entidade e de suas guias da seguinte forma:


Encruzilhadas e Cruzeiros: Preto e vermelho 
Almas: Preto e branco 

  Nesse tipo de culto se acredita que os Exús das Encruzilhadas e os Exús dos Cruzeiros estejam integrados apenas por alguns Exús, a exemplos: Exú Tiriri, Exú Marabo, Exú Destranca Rua, Exú Sete encuzilhadas, etc. Já no último, o Reino das Almas foi atribuído também neste, todos os Exús pertencentes ao espaço cemitério, como exemplo: Exú Caveira, Tata Caveira, Exú das Almas, Pombagira Maria Padilha das Almas, etc. Englobando todos Exús a um único Reino, o das Almas.

  Pensamos que a simplificação do culto dos Exús atrelados apenas à crença da existência de “três Reinos” nos faz acreditar que foi desta forma que se perdeu a informação da existência dos demais Reinos existentes dentro do culto de Quimbanda.


CULTO DOS EXUS ATRAVÉS DOS 7 REINOS




  Antigamente em meados de 1942 tivemos uma denominação (talvez uma das primeiras) de SETE LINHAS DE QUIMBANDA feita pelo autor Umbandista Lourenço Braga, autor de diversos livros. O mesmo então propunha uma visão dualista entre a Umbanda e a Quimbanda (Bem / Mal - Luz / Trevas)

  Com a criação das 7 linhas da Umbanda o lado ''negativo'' por fazer uso dos elementos da natureza tambêm foram atribuidos 7 Reinos na Quimbanda.

Linhas da Umbanda


- Linha de Ogum



- Linha de Iansã



- Linha de Oxossi



- Linha de Xangô



- Linha de Oxum

- Linha de Iemanja

- Linha de Oxalá


Reinos da Quimbanda


- Reino das Matas

- Reino dos Cruzeiros

- Reino das Encruzilhadas

- Reino da Lira

- Reino do Cemitério

- Reino das Almas

- Reino da Praia


  Com a lista dos Reinos informada, podemos perceber que os espaços de culto dos espíritos estão separados em diferentes partes da natureza, através dos reinos, como praticado na Kimbanda Bantú e que a Quimbanda brasileira herdou essa forma de culto. Entendemos que esta seria a forma mais coerente de culto da nossa Quimbanda realinhada com a crença banta, onde é separada do culto da Umbanda, possuindo suas particularidades nos rituais através de seus Reinos, abrindo margem para que sejam cultuados os Exús que perderam seu culto com passar dos tempos.

  Esta forma de cultuar Exú faz com que cada entidade em determinado Reino tenhas suas cores específicas de suas vestimentas e de seus colares de miçangas.Nesse mesmo rumo, poderíamos separar suas oferendas através das particularidades de cada um dos reinos de atuação, diferente de criar uma oferenda Generalizada para Exú de Quimbanda, como vem sendo praticada em muitos lugares, e que talvez possamos caminhar juntos num mesmo rumo lógico de entendimento do culto.

  Existe a crença banta de que os espíritos se dividem em dois grupos após a morte, perdendo sua individualidade e vivendo no espaço mato. Isso explicaria perfeitamente porque o culto está intimamente ligado a este local da natureza, onde as pessoas viviam antes do desenvolvimento urbano, passando a se tornar mais tarde o “Reino das matas”, antes da formação do “Reino dos Cruzeiros e Encruzilhadas”.

  Olhando por esse ângulo, pensamos que talvez o primeiro reino de quimbanda fosse o “das Matas” e mais tarde o dos Cruzeiros e Encruzilhadas teria ganhado mais expansão, assim se formando as zonas urbanas onde se inicia o Reino da Lira com seus comércios, boates, bares e etc... Depois com a influência católica as pessoas começaram a ser enterradas em locais especificos com túmulos, làpides, cruzes formando assim o Reino dos Cemitérios. O Reino das Almas foi associado a lugares altos como picos, montanhas lombas e desfiladeiros,
devido as crenças antigas que as almas deveriam buscar estas lugares para transcender e encontrar imortalidade.. Como por costume os templos e igrejas eram sempre construidos nos lugares mais altos e seus cemitérios eram contruidos ao lado ou atrás, assim o Reino das Almas foi assimilado com o dos Cemitérios. O Reino da Praia fecha o ciclo dos reinos pois os é a passagem dos negros da África para o Brasil, o maior Reino em extenção, aonde também é conhecido por Reino das águas por corresponder também aos rios, lagos e riachos e conhecido também por kalunga Grande pois muitas famílias africanas perderam seu entes queridos para os navios negreiros era como se estivessem sendo levados para a morte.


Culto dos Exús através do sincretismo com Demônios (Quimbanda Luciferiana)




  Na história das religiões, o sincretismo é uma fusão de concepções religiosas diferentes, ou, a influência exercida por uma religião nas práticas de outra. Assim como as entidades da Umbanda, em meados dos anos sessenta os Exús de Quimbanda também sofreram sincretismos religiosos, formando naquela época as expressões populares de “linha da direita” e “linha da esquerda”. Através do sincretismo, os Caboclos tiveram suas imagens vinculadas às divindades cristãs do bem, diferente dos Exús que tiveram as suas associadas às entidades consideradas pagãs pelo povo cristão.

  Na década de 1960,alguns praticantes dessa modalidade de culto de quimbanda criaram uma hierarquia fundamentada nesse sincretismo demoníaco, retirada de um livro de nome “Grimorium Verum” que existia muito tempo antes do Brasil ser descoberto, onde menciona seus demônios chefes de alto grau:



1. Belzebú 



2. Lúcifer 



3. Astaroth 


  Seguindo essa linha de comando viriam os demais Exús associados aos demônios. Associando esses nomes aos Exus de kimbanda, como: Exu Marabô ou diabo Put Satanaika, Exu Mangueira ou diabo Agalieraps, Exu-Mor ao diabo Belzebu, Exu Rei das Sete Encruzilhadas ao diabo Astaroth, Exu Tranca Ruas ao diabo Tarchimache, Exu Veludo ao diabo Sagathana, Exu Tiriri ao diabo Fleuruty, Exu dos Rios ao diabo Nesbiros e Exu Calunga ao diabo Syrach. Sob as ordens destes e comandando outros mais estão: Exu Ventania ao diabo Baechard, Exu Quebra Galho ao diabo Frismost, Exu das Sete Cruzes ao diabo Merifild, Exu Tronqueira ao diabo Clistheret, Exu das Sete Poeiras ao diabo Silcharde, Exu Gira Mundo ao diabo Segal, Exu das Matas ao diabo Hicpacth, Exu das Pedras ao diabo Humots, Exu dos Cemitérios ao diabo Frucissière, Exu Morcego ao diabo Guland, Exu das Sete Portas ao diabo Sugat, Exu da Pedra Negra ao diabo Claunech, Exu da Capa Preta ao diabo Mussifin, Exu Marabá ao diabo Huictogaras, e o nosso Exu-Mulher, Exu Pombagira, simplesmente Pombagira ao diabo Klepoth. Mas há também os Exus que trabalham sob as ordens do orixá Omulu, o senhor dos cemitérios, e seus ajudantes Exu Caveira ao diabo Sergulath e Exu da Meia-Noite ao diabo Hael, cujos nomes mais conhecidos são Exu Tata Caveira (Proculo), Exu Brasa (Haristum) Exu Mirim (Serguth), Exu Pemba (Brulefer) e Exu Pagão ao diabo Bucons.

  Através do surgimento deste tipo de culto, acabou se perdendo particularidades do culto de Exú Rei da Lira que foi trocado pela imagem caída de Lúcifer. Com o surgimento dessa modalidade, percebemos uma perda ritualística muito grande da maioria dos Exús de quimbanda, de seus reinos, povos e clãs, por terem buscado explicações para Quimbanda em uma cultura totalmente diferente da Banta. Acreditamos que essa maneira de ver o culto de quimbanda foi o mais prejudicial para imagem da mesma, bem como, dos sacerdotes do culto que ficaram associados à imagem de bruxos, feiticeiros, satanistas, etc.

  Em muitas casas o culto aos Maiorais (Lúcifer, Belzebu e Astaroth) é feito de maneira similar a quimbanda com sacrificios mas em locais separados com suas próprias casas e seus rituais diferenciados, andandando lado a lado com a Quimbanda com os Exus respeitando eles como Maiorais mas cada um tendo suas particularidades.